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Ainda sobre minha mãe

Ainda sobre minha mãe

PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto

Por Graziela Azevedo

Minha mãe gostava das cores do mundo. Batom vermelho, amarelo nas roupas, estampas…

Amava as entidades da umbanda, os índios, os caboclos e caboclinhas das águas, as pretas e pretos velhos. Rezava para Santa Luzia, Nossa Senhora e tantos outros santos católicos que agora não lembro. Passava por cima dos mitos e preconceitos da sua geração porque colocava  o amor e a amizade em lugar mais alto e profundo.

A porta da casa e da vida dela sempre estiveram abertas para quem precisasse.  Nem sempre foi fácil ser moradora e parte da grande morada da mãe.  Era preciso estar sempre preparado para dividir o que se tinha e quando a gente é criança ou mesmo jovem tem dificuldade pra isso.

Ela também tinha um lado dramático de sofrer por tudo e todos, uma teimosia capaz de persistir para além da nossa paciência e uma habilidade de contar suas histórias mais cabeludas fazendo todo mundo rir.

Foi bem bonita e charmosa minha mãe. Conquistou, foi feliz e sofreu por amor. Não gostava de ficar sozinha, não gostava mais de comer carne de nenhum tipo e adorava deitar no sofá com alguém ao lado para comentar as séries, filmes e noticiários que via. Xingava muito o governo e elogiava demais o poder das vacinas.

Era fã de refrigérios como analgésicos, antidepressivos, chás e banhos de ervas. Foi fã de ir ao enterro da Elis Regina e passar a noite contanto como foi o show Falso Brilhante.  Tocamos “Gracias a La Vida” na despedida final dela. Foi linda só celebrada por nós sem líder religioso algum.

Kick Buttovisk (personagem de um dos meus desenhos animados favoritos) tem um lema: “viva até doer”. Minha mãe foi do tipo que viveu até doer, não passou em branco pela vida de ninguém, não economizou em nada até poder “ficar aqui deitada quietinha com os olhos fechados” para sempre como ela gostava de ficar nos últimos tempos. Isso dói, mas o que ela foi e é pra nós certamente será cura.

(foto da gente feita pelo querido Sidney no terraço do nosso prédio de onde a gente gosta de ver o sol se pondo)

*** Se você quiser compartilhar sua memória em nosso blog, nos conte sobre a pessoa querida que você perdeu, sobre sua história e nos envie uma foto que publicaremos nas Memórias para sempre lembradas.

E-mail: contato@proalu.com.br

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