Existe um tempo certo para iniciar ou encerrar o processo de luto?

Autoras: Carolina Conte e Beatriz Maximino

O famoso ditado popular que diz que o tempo é o melhor remédio, se aplicado ao processo de luto pode-se criar expectativas que irão desencadear sentimentos conflitantes, que não segue uma ordem temporal, mas sim a subjetividade de cada pessoa.

Se organizar, reconstruir e dar um significado depois de uma perda significativa, pode levar a um processo em que há momentos em que a pessoa se sente triste, para baixo, sem energia, ela pode sentir raiva por ter perdido uma pessoa importante, e de repente passa a sentir saudade. Uma outra pessoa, do mesmo núcleo familiar, pode ter perdido essa mesma pessoa importante e querida, porém, pode acordar no dia seguinte, disposta a trabalhar e seguir sua vida. São dois exemplos, que nos mostram o quanto o luto é singular e particular para cada pessoa.

A morte por muitas vezes é considerada um tabu, vivenciar o processo de luto e se expressar de forma melancólica, pode não ser visto positivamente pela sociedade. A pessoa enlutada, dificilmente tem um espaço seguro para falar sobre a dor da perda, tudo que ela quer e precisa é ser acolhida e ouvida. Com a falta de acolhimento, que pode vir dos próprios familiares, amigos e do meio social desta pessoa, ela pode se recolher e até mesmo negar este luto, por achar que pode estar sofrendo há muito tempo, por exemplo. Ou em outro extremo, a pessoa pode se preocupar e se questionar, por não estar sofrendo como acredita que deveria estar, e como as pessoas em sua volta esperam. Então, podemos nos perguntar: Existe realmente um tempo para vivenciar cada sentimento no processo de luto? Precisamos no preocupar? Por que é importante vivenciar, elaborar e dar um significado para a morte de uma pessoa querida?

Quando a pessoa enlutada faz estes questionamentos, ela já está desenvolvendo a elaboração do seu luto, em busca do seu novo entendimento de mundo, que vai acompanhá-la pelo resto de sua vida, pois foi a perda de um familiar, amigo, cônjuge, que não se faz mais presente. Ou seja, não existe um tempo certo para a elaboração de um luto, porém é importante entender quando este luto impede a pessoa de retornar para as suas atividades do dia a dia, os prazeres de vida e hobbys, pode ser desenvolver um luto complicado. Existem fatores de risco para luto complicado, a melancolia passa a impactar na vida social, no trabalho, na saúde física e psíquica. É importante que a pessoa tenha uma boa rede de apoio de familiares e amigos, para que busque a ajuda de um profissional de saúde mental, que possa auxiliá-lo.

É importante vivenciar e elaborar o luto para que não gere sentimentos que venham a ficar reprimidos, e muito menos deixado de lado, pois, pode se manifestar em outro sintoma posteriormente.

Bibliografia:

SCHUBERT, GUSTAVO. O processo de não elaboração do luto e suas possíveis consequências.  Santa Rosa, Dez 2017. https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/4938/Gustavo%20Schubert.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em Março de 2022.

Franco, Maria Helena Pereira. O Luto no século 21: uma compreensão abrangente de fenômeno. 1ª Edição – São Paulo: Summus, 2021. P. 71 a 79