O fenômeno ghosting e o luto

Por Sandra Evangelista

Em algum momento podemos viver a experiência de ser desconectado de forma abrupta de uma relação. O ghosting é quando uma pessoa desaparece da vida de alguém sem nenhuma explicação, justificativa ou chance de contato. E você logo pensa “O que aconteceu?” ou “O que foi que eu fiz”. E fica sem resposta, sem nenhum sinal.

E como você se sente? – Talvez o ghosting irá ativar o botão interno 3D – “desamparo, desamor e desvalor”, caso você não tenha uma autoestima fortalecida pelo autoconhecimento e autocompaixão.

E você pode pensar que isto só acontece em relações amorosas, mas não é verdade. Acontece em amizades, nas famílias, ou seja, nas relações.

E por quê? Provavelmente porque a pessoa que pratica o ghosting tem uma questão importante de vinculação afetiva. Quando ela percebe a possibilidade de ligação, a presença real de afetos, ela bloqueia para se proteger, pois ela não suporta correr o risco de ser abandonada. Para re proteger, ela abandona primeiro. Neste caso, não tem nada a ver com você!

O ghosting ativa um processo de luto, já que é a nossa resposta a perda de algo ou alguém significativo. Você vinha construindo uma história, havia sonhos e expectativas, que se romperam. E esta perda pode ser difícil de vivenciar, porque não há um desfecho.

Situações em que não se tem um corpo para velar em caso de mortes violentas, como explosões, situações em que não se tem certeza da morte como o desaparecimento de pessoas, situações em que não se tem uma resposta para o desaparecimento do outro por escolha – o ghosting, são muito desorganizadores da nossa psique, traz muito sofrimento.

Hoje, o ghosting se dá pela ausência de resposta em aplicativos de conversa, mas anterior a tecnologia, ele se dava na saída para a compra de um cigarro, em que o outro nunca mais voltava.

As nossas reações às perdas estão relacionadas ao nosso modo interno, a nossa crença de que os afetos são para sempre, mas não são. Há amigos que partem e chegam durante toda a vida, há amores que seguem o mesmo fluxo.

Quanta angústia não saber se o outro morreu concretamente, então é preciso matá-lo simbolicamente. Faça um ritual de despedida para aquela pessoa que partiu sem explicação, e faça as pazes, dando um desfecho, para que essas pessoas não se tornem fantasmas em seu universo emocional.