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Sim, o luto nos muda.

Sim, o luto nos muda.

PROALU - Programa de Acolhimento ao Luto

Por Irineu Villanoeva Júnior
@sempressapraviver

Ouvimos durante toda a nossa vida que “Se tem uma coisa certa nesta vida, é que todos nós vamos morrer um dia”. Disso ninguém escapa. Não sabemos como, não sabemos o dia e muito menos sabemos lidar com todas essas questões em relação ao luto da morte, inclusive de nós mesmos.

Não pertencemos a uma cultura em que falar sobre morte é uma conversa natural. Pelo contrário: evitamos falar sobre isto. Fomos educados assim. Bom seria quebrar este paradigma. Principalmente com as crianças. Para que as experiências de perdas na fase de desenvolvimento sejam positivas, e para que elas estejam preparadas para o luto na fase adulta.

No dia em que a morte de um ente querido, de um relacionamento, de um emprego, de projetos, de um animal de estimação, enfim, quando perdas concretas e simbólicas baterem à nossa porta, por mais que saibamos que este dia vai chegar, não estamos preparados. A mala ainda não está pronta. O “eu te amo” talvez ainda não tenha sido dito. O pedido de perdão ainda está engasgado.

Falar sobre isso e olhar com uma dose generosa de amor (digo autoamor e amor pelo outro), não tenho dúvidas, é a chave para que o nosso processo do luto, de qualquer tipo, seja menos doloroso e menos complicado. Seja brando e educador. Não é que não vá doer. Vai. Mas o que vamos fazer com essa dor é uma tarefa que cabe a cada um de nós. Ninguém pode fazer por nós. É um processo individual, não linear, cheio de desafios, de resignação, humildade e, sem nenhuma dúvida, um processo de muito aprendizado. Sim, aprendemos na dor assim como aprendemos no amor. Aprendemos muito e esvaziamos do nosso inconsciente muitas coisas guardadas, escondidas.

Para que isso seja mesmo um aprendizado e, quem sabe, uma mudança de vida – olha isso: mudança de VIDA – , podemos viver com mais harmonia, amor, empatia, verdade e sem medo da morte. Quem vive o luto de forma saudável aprende a amar mais, a dedicar mais tempo para as coisas que importam, aprende que o outro importa, que a vida é esse momento presente e que hoje é mais um dia de vida.

Não é uma tarefa fácil o enfrentamento do luto. Não tem como não se desorganizar, entristecer, chorar, sentir raiva, pedir ajuda e se conhecer melhor para poder perdoar, amar, doar e transformar. Aprendizado é isso: ver o processo, entender que ele exige desafio, foco e energia, e que somos capazes, sim, de enfrentarmos e de nos tornarmos pessoas melhores.

Nunca se esqueça: o luto é um processo pessoal com muitos enfrentamentos, mas que pode ser também de muito aprendizado. E que nos tornamos enlutados porque estamos falando de “amor e perda e os dois são faces da mesma moeda. Não podemos ter um sem nos arriscar ao outro”, como disse Colin M. Parkes. E o equilíbrio entre a dor da perda e a necessidade de adaptação sinaliza que o luto está seguindo seu curso e que estamos em processo de mudanças. O luto nos muda.

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